domingo, 23 de setembro de 2012

Pequenos e grandes pecados



Tenho que admitir: sou pecadora

Não me refiro aos pecados cravados em bíblias ou corpos encolhidos devido as cicatrizes de cilícios. Me refiro ao pecado em cerne, aquele que só após permanecer em silêncios longos somos capazes de perceber que existem e criaram raízes, ali mesmo, dentro de nós.


Eu vi a raiz timidamente roçar meu calcanhar e sorri pra ela. Achei que com o tempo ela entenderia que eu não poderia acompanhar e cuidar de seu crescimento. Achei que ela seguiria por si só e eu poderia somente observar por um ou dois instantes quaisquer.
Eu gosto desse meu jeito. O pecado de certa forma torna-me ainda mais humano e o fato de cometê-lo faz-me sentir violentamente viva.
E essa vivacidade toda me deixou um pouco cansada, de modo que tive que deixar todos os  orgulhos e monstros aquietados de lado e deitar na cama para chorar. E com o choro admiti para mim que tinha medo.
Medo desta violência toda de sensações, destas acomodações. Medo de saber sim que poderia ser alguém melhor e simplesmente não colocar o benefício em prática. Tinha medo de alguns monstros que se desenhavam dentro da minha cabeça ( e eu sabia-Sabia sim que todos tinham a minha face).

Me perdoe pelo que te fiz. Tentarei ser alguém melhor.


segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Guia de sobrevivência


Eu te disse mais de mil e três vezes: da carne tiro o que bem entender! Esse seu gosto incompreensível em delimitar o destino do sangue, do Meu sangue, já me rendeu bons goles de estafo!
Já a minha lassidão é compreensível! Veja bem, aquele número de telefone deveria ser usado em situações emergenciais! Uma emergência não é um acaso qualquer, uma situação de calçada que qualquer par de conversas pode resolver.
Ora, e agora, o que fazer?! Já disse pra não me envolver em suas folias... Dessa vez eu não me meto! Dessa vez o sangue vai sim pra onde eu bem entender! E você?! Ora, você vai arranjar um jeito de esquecer aquele telefonema- de resto, não sei. Se vira!
Mas que droga! Diz-me porque não consigo fazer surgir três ou oito passos pra longe dessa carniça que você apadrinhou? E toda essa caturrice
 que você transpira e se tornou vai nos adiantar de quê?! Com tanta folia negra não nos restará nem uma morte saudosista...

Você e essa mania de abiscoitar tudo! Isso te levou pro fundo do poço! Agora eu e você somos o seu lodo! Não...Não é possível! Tô me envolvendo nessa momice tua!!! Pela milésima  quarta vez: agora eu me abstenho disso tudo!
O lodo e o triunfo (seja o último o que for) são inteiramente seus. Cá entre nós, que esse melindre natural que Deus e a olência que está entre as coxas da tua mãe lhe deram seja teu guia de sobrevivência.

E o papelzinho que tem o número escrito você me devolva! 
Ai... Que vontade de entorpecer a cabeça toda e sentir que nada disso tá acontecendo...Mas que parvoíce cagada, hein?!
E me diz, o que vai fazer com a ciranda? 
Sim, porque têm fitas rompidas, desaparecidas, sequestradas... Os donos tão por aí procurando, não estão? Eu bem sei que não são tuas! Malandragem, é isso o que faz!
Tua alma tá suja de lodo. Teus olhos já não têm aquele brilho que conheci na nossa infância.
Tua música barulhenta incomoda, não percebe?
Olha, eu te amei sim! Minha lassidão e seu gosto na minha boca não me deixam mentir e dizer (nem a mim) que passou.
Mas a folia e a carniça também são tuas.

O guia de sobrevivência vai dar o seu jeito.



Eu vou embora porque o problema é seu!

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Que voe

A porta do quarto estava quase fechada e quase aberta.
"Tire os meus olhos daqui!" Dizia às palavras quase ilegíveis do papel liberto de um caderno qualquer. A culpa, quieta, foi embora.
 Pra falar a verdade, tinha raiva de sentir aquilo-nem era bonito. Nem era digno, mas não era culpa.
 Era indigno verificar se as madeiras da ponte ainda se encontravam podres. Como se mágica fosse resolver a podridão das coisas...
A culpa foi embora porque era vida que sorria por atenção.
Foi quieta porque sabia que o sentimento era tentador, e o pecado era deixar de ser aquilo que almejava.