O sentimento que fica é a vivência
cotidiana de duas mulheres em si.
A realidade exterior e a realidade
interior. O conflito do eu. A pausa em frente à carta inacabada, o café já
morno e a mente sem palavras. As duas linhas preenchidas não tiram o poder
destrutivo do vazio que se segue e da cor branca dominante sobre o papel.
O som da TV ecoa esse vazio sem
nome. Era uma situação perplexa, estar tão cheio e vazio de si. Um sentimento
aterrador duas vidas dentro de uma. A comunicação de duas almas que totalizam uma
dá-se por silêncio e gritos, lágrimas e um riso descontrolado. Não se tem o
contorno do sorriso.
Aquele branco incomodava os olhos.
Rasgou o papel em pequenos pedaços e jogou na xícara cheia de café. Dava para
enxergar no reflexo dos olhos a tinta que compôs as poucas palavras e que foi se desfazendo insossa no líquido escuro. Acompanhava o processo quase ritualístico
com um cigarro entre os dedos.
“Insosso”. A palavra não saía de
sua mente (ao menos, agora, surgia alguma palavra para enxotar em vão aquele
vazio).
Insossa era sua percepção de vida naquele instante, e, parecia que as duas linhas da carta já morta eram compostas por essa palavra tão devastadora e quase que ao mesmo tempo, tão consoladora.
Insossa era sua percepção de vida naquele instante, e, parecia que as duas linhas da carta já morta eram compostas por essa palavra tão devastadora e quase que ao mesmo tempo, tão consoladora.
O que surgiu foi a ideia de
desentender a vida. Cansava-se das projeções psicanalíticas sobre o inanimado,
pois, era isso o que eram... Sentia que evitavam a vida vivendo como o
esperado.
E exatamente por isso, o cigarro era mais consolador, ele, consigo, era o não-gente que além de viver, sentia-se. A fumaça dominava o aposento e o cheiro seco em seu cabelo e roupas cessavam a podridão de duas almas.
E exatamente por isso, o cigarro era mais consolador, ele, consigo, era o não-gente que além de viver, sentia-se. A fumaça dominava o aposento e o cheiro seco em seu cabelo e roupas cessavam a podridão de duas almas.
Diante disso, o contorno, irônico,
montou sob e sobre rosto. O rosto foi envelhecido pelas horas e promessas
infundadas. Ele, o contorno, aceitava passivamente o cigarro, como um
hospedeiro se alegrando falsamente com a companhia do parasita. As rugas
culminavam como raízes. Fendas se construíam, e agora lia a última palavra que
restou num fragmento do papel destronado: insosso.
Pois era realmente o que havia
escrito.
A última tragada era em homenagem ao não viver.
que imagem linda Gabs! foi fácil de achar? hahahaha
ResponderExcluirPerfeito, Gabs!
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