domingo, 29 de julho de 2012

"It would be wonderful to say you regretted it. It would be easy. But what does it mean? What does it mean to regret when you have no choice? It's what you can bear. There it is. No one's going to forgive me. It was death. I chose life"- Laura Brown


O sentimento que fica é a vivência cotidiana de duas mulheres em si.

A realidade exterior e a realidade interior. O conflito do eu. A pausa em frente à carta inacabada, o café já morno e a mente sem palavras. As duas linhas preenchidas não tiram o poder destrutivo do vazio que se segue e da cor branca dominante sobre o papel.
O som da TV ecoa esse vazio sem nome. Era uma situação perplexa, estar tão cheio e vazio de si. Um sentimento aterrador duas vidas dentro de uma. A comunicação de duas almas que totalizam uma dá-se por silêncio e gritos, lágrimas e um riso descontrolado. Não se tem o contorno do sorriso.
Aquele branco incomodava os olhos. Rasgou o papel em pequenos pedaços e jogou na xícara cheia de café. Dava para enxergar no reflexo dos olhos a tinta que compôs as poucas palavras e que foi se desfazendo insossa no líquido escuro. Acompanhava o processo quase ritualístico com um cigarro entre os dedos.
“Insosso”. A palavra não saía de sua mente (ao menos, agora, surgia alguma palavra para enxotar em vão aquele vazio).
 Insossa era sua percepção de vida naquele instante, e, parecia que as duas linhas da carta já morta eram compostas por essa palavra tão devastadora e quase que ao mesmo tempo, tão consoladora.
O que surgiu foi a ideia de desentender a vida. Cansava-se das projeções psicanalíticas sobre o inanimado, pois, era isso o que eram... Sentia que evitavam a vida vivendo como o esperado. 
E exatamente por isso, o cigarro era mais consolador, ele, consigo, era o não-gente que além de viver, sentia-se. A fumaça dominava o aposento e o cheiro seco em seu cabelo e roupas cessavam a podridão de duas almas.
Diante disso, o contorno, irônico, montou sob e sobre rosto. O rosto foi envelhecido pelas horas e promessas infundadas. Ele, o contorno, aceitava passivamente o cigarro, como um hospedeiro se alegrando falsamente com a companhia do parasita. As rugas culminavam como raízes. Fendas se construíam, e agora lia a última palavra que restou num fragmento do papel destronado: insosso.

Pois era realmente o que havia escrito.

A última tragada era em homenagem ao não viver.

2 comentários: